Por Letícia Santana
Não é novidade que diante da sociedade capitalista vigente, a mídia e as indústrias se aproveitam de causas sociais que estão em debate para lucrar. Muitas revistas de moda e beleza vem usando desse argumento ao pregar a autoaceitação, empatia e combate à diferentes tipos de preconceitos em suas páginas. Porém, esse tipo de conteúdo em revistas que tem o consumo como base ainda é uma ilusão e a Grazia UK provou isso na última semana.
Ao trazer Lupita Nyong’o como capa, a revista prometia uma edição inclusiva, diversa e de exaltação à mulher negra, porém a realidade foi outra. A publicação editou o cabelo da atriz sem o seu consentimento, apagando a sua história, seus traços e jogando no lixo a oportunidade de fazer com que outras negras se sentissem representadas.
Um discurso falacioso
Ao ver o resultado final da foto escolhida pela equipe da revista, Lupita usou o seu Instagram para denunciar o caso: “Como já deixei claro no passado, abraço minha herança natural e, apesar de ter crescido pensando em peles claras e cabelos sedosos como padrões de beleza, agora sei que minha pele escura, assim como os meus cabelos crespos, também são lindos. Estampar a capa de uma revista me satisfaz, pois é uma oportunidade de mostrar a outras pessoas negras, de cabelos crespos e, principalmente, às nossas crianças, que elas são lindas do jeito que são. Estou desapontada que a @graziauk me convidou para estar na capa deles e editou e alisou meu cabelo para adequar à noção de como os cabelos lindos devem parecer. Se eu tivesse sido consultada, teria explicado que não posso apoiar ou tolerar a omissão da minha herança. Ainda há um longo caminho a percorrer para combater o preconceito inconsciente contra a pele, estilo e textura dos cabelos das mulheres negras”, escreveu a atriz, colocando a foto editada ao lado da original.
Rapidamente, o desabafo de Lupita repercutiu, fazendo com que a revista fosse bombardeada por críticas. Então, a Grazia UK fez um comunicado em seu Instagram afirmando que gostaria de pedir desculpas publicamente à atriz e se eximindo de qualquer responsabilidade ao concluir: “A Grazia gostaria de deixar claro que em momento algum fez qualquer pedido editorial ao fotógrafo para que o cabelo de Lupita Nyong’o fosse alterado, nem alteramos a foto por contra própria”.
Não adianta falar que o amor próprio deve prevalecer independente de como for o seu corpo, se na página seguinte, a revista está revelando a fórmula secreta de como perder três quilos em uma semana. Não adianta falar que a mulher negra deve resistir e se aceitar, se na página seguinte há um editorial apenas com mulheres brancas. Falta representatividade, falta inclusão pautada na verdade. O discurso é lindo e tão necessário, porém perde a força ao ser acompanhado de um jogo de interesses cruel e cheio de manipulações. Felizmente, as artistas vem tendo a coragem de denunciar casos inadmissíveis como esse.
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Fotos: Reprodução.