Por Paulo Ricardo
Neste mês em que celebramos o orgulho LGBTQIA+ trago uns títulos que abordam esse tema para que possamos pensar sobre como a homofobia está estabelecida em nosso cotidiano, mesmo nos dias de hoje, e como ela pode ser maléfica à vida de indivíduos e grupos sociais.
O filme brasileiro ‘Sócrates’ começa com a sequência na qual seu protagonista, um jovem negro, acaba de perder a mãe. Ele chora a dor da perda e pela angústia de encarar o seu ‘agora’: ele está completamente sozinho no mundo e vai ter que encarar o que está reservado para um jovem negro, de periferia e gay, o jovem é menor vai ter que torna-se adulto e arcar com todas as responsabilidades que isso traz. Mais do que um drama social, o filme é mesmo sobre solidão. Nem mesmo a questão de raça havia no roteiro original. Alexandre Moratto, o diretor, conta que fez testes para o papel de Sócrates com vários jovens atores e que quem ganhou o papel foi Christian Malheiros. Uma escolha pra lá de acertada, pois sua interpretação é um dos sustentáculos do filme, e não por acaso o levou a uma indicação do prêmio Spirits Award, disputando com Joaquim Phoenix e Ethan Hawke.
O roteiro guarda semelhanças com a vida do diretor, que também perdeu a mãe e passou fome. Numa das sequências mais dilacerantes Sócrates apanha comida do lixo para saciar sua fome.
Com a morte da mãe, sem dinheiro pro aluguel, sem comida e sem ninguém, o garoto segue buscando trabalho e encontrando apenas portas que se fecham na sua cara. O mundo é hostil para um jovem como ele. Se virar com subempregos é uma saída, e é num desses subempregos que o amor acontece. Encontra Maicon, e logo na primeira troca de olhares a atração é intensa de ambos os lados, mas, aqui, ao invés de subir uma trilha sonora romântica para sublinhar o encontro, com cantos de pássaros ou badaladas de sininhos, ouvimos apenas os sons da sucata sendo empilhada pelos garotos e sentimos uma crescente tensão no ar.
“O que é que tá me olhando, viado?”, diz Maicon. E os corpos dos garotos logo se encontram, mas numa luta insana, um corpo a corpo que parece ser a única maneira reservada para aqueles corpos se tocarem. Está lançada a base de um amor impossível. Maicon, tanto quanto Sócrates, se sente tambem atraído, a diferença é que ele não se aceita enquanto homossexual – e isso é coisa comum (eu sei, eu sei…). O romance até acontece e é realmente intenso, mas como resistir ao preconceito e à pressão da homofobia da sociedade lá fora? Aliás, Sócrates conhece essa rejeição não só do lado de fora, seu pai parece ter sido o primeiro a lhe causar tamanha dor.
A solidão reservada para esse “estranho amor” se faz concreta, resta ao menino virar adulto e seguir em frente.
O filme foi produzido com jovens de 16 a 20 anos capacitados pelo Instituto Querô, uma ONG de Santos, reconhecida pelo Unicef, que utiliza o audiovisual como ferramenta de inclusão e transformação para os jovens em situação de risco social.
Está disponível no youtube. #FicaEmCasa e confere.
Fotos: Reprodução.