Mais do que moda!

Shéhérazade

Por Paulo Ricardo

Embora o título do filme evoque um perfume de fábula vinda do Oriente, o diretor francês Jean-Bernard Marlin já nos apresenta, logo na abertura, antigas imagens de arquivo da chegada de imigrantes à cidade portuária de Marselha, marcando a busca pelo tom documental da obra – obra essa que transita entre o lírico e o real.

A história de Zach, que saindo de um centro de reabilitação juvenil é rejeitado pela mãe e volta às ruas (“Até logo?” Pergunta o sarcástico carcereiro na saída do jovem, que ri e responde “nunca mais”) é um mergulho no mundo de jovens delinquentes e desesperançados que vivem à margem da glamorosa Marselha.

Representantes de uma geração abandonada pelos pais, escola e instituições, esses jovens parecem estar presos num círculo vicioso sem fim.
De volta às ruas e à procura de diversão, Zach conhece Shérérazade, uma jovem prostituta. Eles se atraem e se rejeitam, num mundo em que ambos precisam de carapaças para se defender da violência social e onde não há espaço para um tipo de  fraqueza como o amor romântico. 

Mas quem sabe se juntos eles podem fazer negócios? ‘O cafetão e a puta’ parece ser mais um jogo pra eles dividirem suas dores e suas descrenças. Jean-Bernard Marlin segue essa história de ‘gansta love’ lançando mão de alguns gêneros cinematográficos, numa espécie de neorrealismo moderno, suspense, drama e realismo social, tudo junto e misturado.

O naturalismo do filme se deve muito ao jovem casal de não-atores Dylan Robert e Kenza Fortas e ao intenso trabalho de pesquisa do diretor – o trabalho dos três já foi, inclusive, reconhecido com prêmios. Já o tom feérico sombrio da obra fica por conta das cores da fotografia e de um enquadramento às vezes sufocante. A mistura de realidade com estilismo é emblemática na sequência em que o grupo de prostitutas, sob o comando do cafetão Zach, se apodera de um novo ponto de prostituição numa das avenidas mais ricas da cidade, e a iluminação da cena é formada pelos faróis dos carros que passam. O resultado é estonteante. 

E apesar do peso e sem perder o tom realista da trama, o filme propõe um olhar de esperança ao final de tudo. O amor…ah, esse sentimento…

Tá na netflix. Fica em casa e aproveita a sessão. 

Shéhérazade
Shéhérazade
Shéhérazade
Shéhérazade
Shéhérazade

Fotos: Reprodução.

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