Por Letícia Santana
Há algumas semanas começou uma especulação de que a marca francesa Vetements não estaria muito bem, economicamente falando. Depois de conquistar celebridades como Kendall Jenner e Rihanna com a sua moda desconstruída e fresca, um buyer anônimo declarou ao site Highsnobiety: “Nas últimas duas estações, ninguém nem está olhando para a grife. As vendas tiveram uma queda dramática, chegando ao ponto de vermos peças em outlets com 70% de desconto”. Desde 2015, Demna Gvasaglia, o estilista da Vetements, também assumiu a direção criativa da Balenciaga. “Os clientes têm preferido comprar Balenciaga, que oferece looks semelhantes por uma valor menor e com uma qualidade maior” escreveu o Highsnobiety.
Depois de alguns dias, o CEO da Vetements, Guram Gvasalia, desmentiu os rumores em um comunicado: “Na era de tudo por um clique, estão usando o nome da nossa empresa em uma manchete depreciativa. Para o desapontamento dos que nos odeiam, gostaríamos de contar que a Vetements está em um momento criativo e financeiro ótimo, como sempre. É triste ver jornalistas de moda atacando marcas jovens e independentes enquanto bajulam grandes conglomerados só por causa de seus investimentos em anúncios”. O portal WWD conversou com alguns buyers, entre eles, a Helen David da Harrods e ela afirmou que seus consumidores respondem bem à marca e ainda contou que a última coleção foi vendida quatro vezes mais do que o esperado.
A Vetements fez e faz muito pela indústria da moda: normalizou a moda sem gênero, trouxe uma rebeldia interessante para o mercado, mostrou uma nova forma de fazer business… A sua relevância é inquestionável, mas não dá para negar que, depois que atingiu o mainstream, a real essência e propósito da marca foram colocadas de lado. E é nessa brecha que surgem grifes como a alemã GmbH.
Chega a ser irônico uma marca que desconhece toda e qualquer fronteira ter como nome uma sigla em alemão para Gesellschaftmit beschränkter Haftung (“Sociedade limitada”, em português). Com apenas dois anos no mercado, a GmbH já chamou atenção e tem como traço forte no DNA o multiculturalismo. A dupla que comanda a direção criativa da marca é formado por Serhat Isik, metade alemão e metade turco, e por Benjamim Huseby, metade paquistanês e metade noruegûes. No ateliê, são cerca de 15 imigrantes trabalhando e nas passarelas, modelos muçulmanos e asiáticos sempre marcam presença. A maior parte das peças da GmbH é produzida com um estoque morto de uma grande fábrica de Milão, como resistência ao consumo exagerado e à extração desenfreada de matérias-primas. Construindo, assim, uma grife de streetwear alternativo carregada de discurso.
Engana-se quem pensa que moda feita por millennials é resumida apenas em roupas esquisitas. A última coleção, apresentada em Paris no mês de janeiro, batizada de “Minha beleza ofende você” é a maior prova do equívoco que é esse pensamento. A alfaiataria e o corte impecável da GmbH resultam em belas calças risca-de-giz, blazers e camisas de algodão que vem sendo vendidas como água. A marca, apesar de inicialmente se definir como masculina, vem cada vez mais quebrando esse paradigma e fazendo peças que atendem ambos públicos. A dupla de estilistas já não sente mais a necessidade de rótulos, pois segundo eles “construção de gênero é algo muito século 20”.
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