Mais do que moda!

‘O reino de Deus’

Por Paulo Ricardo 

Não é um filme sobre a igreja universal. É, na verdade, o festejado filme inglês ‘god’s own country’, de Frances Lee, que tem Josh O’Connor e Alec Secareanu em interpretações tão convincentes quanto a química que rola entre eles. O título faz referência à cidade, Yorkshire, onde está localizada a bucólica e distante fazenda na qual a história se passa.

O romance homoafetivo entre os dois trabalhadores do campo é comparado ao ‘O segredo de Brokeback Mountain’, mas aqui não é bem sobre homofobia a questão principal. Também falam em ‘me chame pelo seu nome’, mas vai mais além… a porrada da sequência final me fez lembrar ‘infiltrados na klan’, sendo que, aqui, o movimento é inverso –  acompanhamos uma história contemporânea que remonta a fundação das bases da história feudal na qual está solidamente fincada a Grã-Bretanha, ao contrário do filme de Spike Lee, que vinha do passado para desembocar nos dias atuais.

É a história de John, um jovem que desde a partida de sua mãe vive isolado cuidando de vacas e ovelhas, na companhia apenas de seu pai doente e uma avó resignada. Ele encontra escape nas saidas noturnas para encher a cara no povoado vizinho, se permitindo até ao sexo casual com parceiros, mas de maneira crua e em lugares inóspitos, como fazem os animais da fazenda (atenção para o final).

John é rude, pense numa pessoa rude! Sua vida é uma repetição maquinal, até o sexo é desprovido de sentimentos para ele, pois não há lugar para afetos em seu mundo. Até que num golpe do destino um ‘cigano’ romeno (e aqui o filme toca em questões político-sociais “não me chame de cigano”) vem trabalhar, durante a temporada de partos dos bichos, na sua fazenda. E, claro, muda para sempre aquela família. Como um deus, até ‘ressuscita’ uma ovelha que nasceu quase morta, também sabe curar feridas, simbólicas ou reais, como a chaga na mão de John.

Os silêncios no filme  são potentes e acompanham a trama, e os segredos daquelas pessoas são revelados em pequenos gestos ou em despretensiosas falas. A direção de Frances Lee, que inicialmente é carregada de uma crueza quase documental, vai aos poucos transbordando de lirismo à medida que os sentimentos escapam pelas brechas. Isso rendeu a ele uma premiação no Sundance.  

Um grande filme que está no youtube esperando por você. Fica em casa e aperta o play.

‘O reino de Deus’
‘O reino de Deus’
‘O reino de Deus’
‘O reino de Deus’

Fotos: Reprodução.

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