Por Paulo Ricardo
Sem dúvida que o que mais me impressiona no clássico espanhol de 1973 e dirigido por Victor Erice é a interpretação de Ana Torrent, a mesma garota que encantou a todos em ‘Cria cuervos’. Seus olhos melancólicos imprimem a curiosidade necessária para gente também se perder no mundo de descobertas e mistérios quase sobrenaturais de Ana (nome também da sua personagem).
Em tom lúdico, a história é ambientada num povoado perdido da Espanha nos anos 40, logo após a guerra civil e fatídica implantação da ditadura de Franco.
A analogia da vida em uma colmeia, onde as abelhas trabalham incessantemente para uma rainha, e a ditadura é posta em contexto simbólico, já que a trama não é política e, sim, quase uma fábula vista pelo olhar infantil (décadas depois ‘o labirinto do fauno’ trilhava o mesmo caminho) das irmãs Ana e Isabel.
A trama começa com um cinema mambembe chegando ao povoado para a exibição de ‘Frankenstein, o monstro’. É um acontecimento local a exibição de um filme, e todos correm pra assistir. Os adultos com a consciência de viver um tempo de pós-guerra e carregando suas tristezas, e as crianças com o filtro infantil. De repente irrompe o maravilhoso narrador da fita, que logo no início, adverte: “não levem o filme tão a sério”.
Mas Ana levou. A breve relação de amizade entre o monstro e uma criança, que depois é encontrada morta despertando o horror no lugar, e o consequente assassinato de Frankenstein pelo povo da cidade, mexeu demais com a garota e isso vai guiar seus questionamentos e sentimentos a partir de então, tudo envolto em mistérios insondáveis para a menina.
Como a secreta amizade que ela estabelece com um ativista anti franquista que se esconde na cidade. Como no filme do monstro e como uma metáfora política.
Tem uma cópia em ótimo estado e legendada no youtube, você vai encontrar com o titulo em inglês ‘The spirit of the Beehive’ e com legendas em português. #FicaEmCasa
Fotos: Reprodução.