Por Letícia Santana
A ideia de que a moda é o segundo setor mais poluente do mundo, perdendo apenas para o do petróleo, é muito propagada. Porém, essa é um só mais uma das muitas informações que se tornaram verdades absolutas depois das tantas e tantas vezes que foram repetidas. O fato é que não há dados concretos e 100% confiáveis que confirmem o tamanho dos impactos causados pela moda ao meio ambiente, mas estima-se que ela ocupe o quinto lugar. Independente de colocações, gráficos e estatísticas, a moda pode ser, sim, uma indústria criativa e inovadora, mas não há como negar que é também uma enorme indústria de desperdícios.
Em um recente relatório feito pela Circular Fibres – iniciativa da Ellen MacArthur Foundation, que explora a importância da moda em adotar uma nova visão – foi constatado que o equivalente a um caminhão de lixo têxtil é desperdiçado por segundo no mundo. Cerca de 20% a 30% de tecido é descartado no processo de corte de uma peça. 500 bilhões de dólares são perdidos todos os anos devido às roupas que mal são usadas e raramente recicladas. Essas informações deveriam ser suficientes para o atual sistema de moda ser questionado e ações em busca de mudanças nesse cenário ganharem força, mas não é isso que acontece. “A indústria têxtil de hoje é baseada num modelo linear, desatualizado e no extrair-produzir-descartar”, afirmou a própria Ellen MacArthur no evento de lançamento do relatório, que aconteceu no V&A Museum em Londres.
Temas como moda sustentável, marcas com propósito e consumo consciente até podem estar minimamente em voga, mas o sistema continua intacto e nada mudará, verdadeiramente, se a raiz do problema não for repensada. A indústria da moda, por envolver todas as outras grandes indústrias, tem um poder absurdo… A eletricidade usada nas fábricas de vestuário, por exemplo, muitas vezes vem dos geradores movidos a carvão e diesel. O algodão usado nas peças, por sua vez, é um produto agrícola. Já o poliéster é feito a partir do plástico, que é um produto do petróleo. Enquanto isso, o couro é um subproduto do gado. Por fim, as roupas, depois de fabricadas, são entregues por transporte rodoviário. Ou seja, a partir do momento em que a cadeia de produção e fornecimento for corrigida, reduziria-se também as emissões das outras indústrias mais poluentes do planeta.
Na economia têxtil ideal, a roupa deve ser projetada para durar mais, ser usada mais vezes, ser facilmente reciclada e feita para não liberar toxinas. Explorar novos materiais, usufruir das inovações tecnológicas, expandir as ideias e desafiar o tradicional são passos essenciais para uma moda limpa. Compartilhar os problemas, desafios e pesquisas é sinônimo de articular os indicadores de melhores práticas. Mudanças são urgentes e elas só poderão se concretizar se feitas e pensadas coletivamente.
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