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M8 – Quando a morte socorre a vida

Por Paulo Ricardo 

Cuidado, gatilho! A experiência oferecida pelo filme  ‘M8 – quando a morte socorre a vida’, longa de Jeferson De que conta a história de Maurício, um jovem cotista negro que ingressa numa faculdade de medicina, e percebe ser o único corpo negro na sala, além dos cadáveres que servirão para dissecação e estudo, é, sem dúvida alguma, difícil, especialmente para nós negres, porém urgentemente necessária, principalmente para os não-negres.

“Vocês já se perguntaram sobre a história desses corpos? Às vezes eu me pergunto se eu não tenho mais a ver com esses corpos do que com meus colegas de turma”.

O filme descreve, em cenas curtas e potentes, quase um index das várias formas que o racismo estrutural se revela no dia a dia, enraizado na sociedade e reproduzido de maneira automatizada, por não negres e até mesmo por nossa raça. A apreensão e o desconforto que sentem ao verem um negro se aproximar, as perguntas ‘despretensiosamente’ preconceituosas, uma abordagem policial… são vários os gestos aqui relacionados e que são vivenciados cotidianamente pelo povo preto. 

Longe dos muros da faculdade, mas no caminho de Maurício, os vários protestos de mães, esposas, irmãs ou namoradas negras que buscam por informações dos corpos desaparecidos dos seus, acendem uma luzinha de alerta no estudante, que não demora para  ligar os pontos. Sua relação com a espiritualidade dá as pistas e lhe impele a partir numa luta em busca de justiça e dignidade para os seus.

“- Eu tô procurando os contatos da família que fez doação de um corpo.

– Qual deles?

– O M8″

Na faculdade não se encontra registros da doação dos corpos pelas famílias. A esses corpos o destino é a vala comum da prefeitura.

“Eu não ‘tô’ tentando convencer o senhor de nada. Eu só gostaria de enterrar um dos corpos”.

Aqui, o filme junta-se a uma ‘certa tendência’ que tenho percebido no cinema negro mundial contemporâneo de trazer os cadáveres dos corpos pretos para um tipo de acerto de contas com os responsáveis pela sua morte, ou ao menos que seja resgatada a dignidade deles, e nesse ponto o filme desfere poderoso golpe, especialmente na tocante sequência final. 

“Menino, vai por mim. Se preocupa com mundo dos vivos, porque só isso já dá trabalho demais”.

Maurício sabe que num país no qual um negro é assassinado a cada 23 minutos (segundo relatório do Atlas da Violência) ser um sobrevivente é quase um privilégio e não dá para desassociar.

M8 – Quando a morte socorre a vida
M8 – Quando a morte socorre a vida
M8 – Quando a morte socorre a vida

Fotos: Reprodução.

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