Por Paulo Ricardo
O título original é ‘Passing’ e eu traduziria tranquilamente para ‘Se passando’, em português. Caberia. Mas, trocadilhos à parte, o filme de Rebecca Hall é um primor na direção e na condução austera da história de duas amigas de infância que se reencontram depois de muitos anos na cidade de Nova Iorque dos anos 20. Irene (Tessa Thompson) é uma dona de casa e ativista da causa negra. Clare (Ruth Negga) é casada com um homem branco e consegue esconder suas origens ‘se passando’ por branca. São os anos 20 e o racismo existe fortemente, negros são linchados e enforcados, o clima é pesado – em um dado momento o marido de Irene propõe se mudarem para o Brasil, possivelmente acreditando que o país vivia uma democracia racial!! Coitado. Ah, se ele soubesse o que eu sei…
A tensão racial paira no ar, e dois mundos diferentes se cruzam nesse reencontro: Clare habita a parte rica da cidade, Irene mora no Harlem, o bairro ‘preto’, onde a efervescência cultural se faz notar (foi lá e nessa época que nasceu o Movimento Black Renaissainse, movimento que deu origem a outro grande movimento black: o Negritude). É nesse contexto que o filme se desenrola.
O reencontro das amigas mexe com a vida se ambas, despertando velhos e novos sentimentos. Há até mesmo um forte teor sensual entre as duas mulheres casadas. Mas, não é essa a questão do filme.
Bela estreia da diretora. Tá na Netflix.
Fotos: Reprodução.