Mais do que moda!

Entre rios, tudo que não dissemos

Por Paulo Ricardo 

Não consigo entender qual a régua para um filme ter o selo de ‘filme gay’. Vejamos o caso do pungente filme argentino ‘Entre os rios, tudo que não dissemos’, dirigido por Nelson Schmunk, que carrega esse rótulo e que caberia facilmente no gênero drama intimista. 

O jovem Emanuel (Javier de Pietro) parte em viagem, numa espécie de despedida velada, à fazenda de sua avó. Um drama delicado se desenrola  naqueles dias, onde a morte é anunciada em tom de uma crônica familiar.

A avó está sob os cuidados da mãe de Emanuel, mas não está enferma, deitada em uma cama, esperando a morte chegar. Pressentimos a gravidade da situação e a presença da Caetana pelo tom solene e triste com o qual a filha trata a mãe, por seu cuidado em não revelar-lhe o diagnóstico, nem mesmo o nome da doença nos é revelada, tudo é apenas sugerido. São dias de um idílio no campo em família. Com galinhas, gado, geléia de peras colhidas no pomar, auroras e crepúsculos, o movimento da vida. Alguns segredos e outro tanto de memórias. O presente, o futuro e o passado que sempre andam juntos.

A homossexualidade de Emanuel é apenas sugerida em breves momentos, uma discreta abordagem de um jovem no povoado vizinho, o velho questionamento: “você já tem namorada?” ou quando ele pergunta à mãe, sem explicitar o que, se ela já contou pra sua avó, e ela responde: “só quando eu mostrar os resultados dos exames ao médico”, repete o que já havia dito antes. “Não é isso. É o meu assunto”, responde Emanuel. 

É tudo que não foi dito. E isso conta? É preciso dizer para que se saiba?
São momentos de ternura, cuidado e solidariedade familiar vividos antes da fatídica despedida, a incômoda incerteza de que talvez seja essa a última vez que nos vemos. É  isso que importa, é disso que se trata.

O filme está no youtube. #FicaEmCasa e confere. 

Entre rios, tudo que não dissemos
Entre rios, tudo que não dissemos
Entre rios, tudo que não dissemos

Fotos: Reprodução.

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