Mais do que moda!

‘E Buda desabou de vergonha’

Por Paulo Ricardo

O segundo filme da mais nova cineasta da família Makhmalbaf, Hana, filha de Mohsen e irmã de Samira, traz o mesmo naturalismo poético tão caro ao clã e explícito em obras como ‘Salve o cinema’, do pai, ou ‘A maçã’, da irmã (onde Hana deu seus primeiros passos na carreira fazendo assistência de direção com apenas 10 anos). Mas Hana vai além do campo estético e busca na linguagem um poderoso instrumento transgressor de paradigmas. Isso fica explícito nesse seu segundo longa, que ela filmou em 2007 aos 18 anos.

Na região afegã – onde no começo deste século os talibãs derrubaram, numa demonstração de força, uma gigantesca estátua de Buda – a maioria das famílias vive em cavernas. É  aí que o filme começa e é nesse contexto que seguimos a história da inocente e destemida Bakhtai. A menina de 6 anos tem a obstinada tarefa de querer frequentar uma escola, apesar dos obstáculos no caminho. Encantada com seu amigo Abbas, capaz de ler “histórias divertidas” em seus livros, Bakhtai decide sair em busca de seu sonho. A primeira tarefa é conseguir comprar um caderno e um lápis.

Aproveitando a saída da mãe, ela amarra seu irmão menor em casa (um hábito que faz parte da cultura desse povo) e parte para o mercado para vender ovos e com o dinheiro adquirido ela consegue comprar seu caderno, mas não o lápis, que é substituído pelo batom da mãe. Com esses objetos de alto teor revolucionário, num mundo inóspito para as mulheres, Bakthai está pronta para combater o bom combate. O batom e o caderno. A linguagem falada e a escrita como ferramentas de uma revolução. 

Mas outras dificuldades sempre surgem no caminho. O difícil acesso à escola para meninas já demonstra  a estrutura fundamentalista talibã que relega as mulheres a segundo plano. 

O exército de crianças talibãs que “brinca de guerra” e cruza seu caminho, fazendo dela prisioneira e aos gritos de “vamos apedrejar a terrorista”  – título que ela ganha por portar caderno e batom. “Mas eu não quero brincar de ser apedrejada”, nos joga na cara como está estabelecido o poder masculino e fundamentalista na região. 

Embora para ela tudo não passe de um jogo, uma brincadeira da qual poderá sair quando quiser, ela acaba descobrindo que terá que jogar tal partida se quiser sair vencedora. “Bakhtai morra…  Morra para se libertar”. 

Esse filme está disponível no youtube. #FicaEmCasa e solta o play.

‘E Buda desabou de vergonha’
‘E Buda desabou de vergonha’
‘E Buda desabou de vergonha’
‘E Buda desabou de vergonha’

Fotos: Reprodução.

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