Por Paulo Ricardo
Depois de cinco anos de ausência dos palcos e da internet, Bo Burnham volta com uma produção escrita, dirigida e estrelada por ele, uma obra típica desses tempos de crise sanitária que pode ainda não ser definitiva sobre o assunto, mas consegue traçar um panorama carregado de acidez, sátira e humor – um humor às vezes melancólico, é bem verdade.
Esse trabalho produzido pela netflix é como se fosse um dos shows ao vivo – Burnham ficou conhecido na internet desde que seus shows ao vivo começaram a fazer sucesso no seu canal do YouTube e ele tornou-se um digital influencer – mas na verdade a gente acompanha o artista há um longo tempo desde a pandemia e o isolamento – e no quesito técnico, a edição dá um show à parte, além da fotografia, já que tudo acontece em um único cenário – a saber, a sala da sua casa – mas temos a impressão de um grande palco com vários cenários.
Em mais de uma hora e meia de show – a obra também foi disponibilizada como álbum no YouTube e no Spotify – Burnham dispara sua metralhadora cáustica em músicas que tratam de assuntos como as novas maneiras de relacionamento via internet (facetime e sexting), privilégio e supremacia branca, genocídio e dinâmicas de trabalho abusivas, criação de conteúdo… sim, criação de conteúdo!! E esse é um dos melhores momentos, quando uma das músicas vira objeto de um vídeo react e ele perde o controle entrando num verdadeiro looping, comentando o comentário do comentário, é puro cinema surreal. O filme de Burnham é perfeito para quem, como nós, está em situação de isolamento há mais de um ano. Faz pensar e sorrir, ainda que seja um sorriso amarelo, ainda que seja sorrir de nós mesmos. Afinal, é como ele diz em uma das suas canções:
“A comédia acabou ? Quem vai tentar fazer piada no momento como esse?”
Essa coluna recomenda: #FicaEmCasa e confere.
Fotos: Reprodução.