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SPFW N59 :: Por que precisamos resgatar o desejo de pertencer?

Por Marina Cassiolato

Voltei ao lugar onde comecei minha vida profissional para observar de perto o ciclo comportamental que, na minha visão, estamos vivendo. Sempre amei o título do livro do André Carvalhal — A Moda Imita a Vida — e é impossível discordar: analise a moda e o consumo de moda, e você entenderá muito sobre o nosso tempo.

Acredito no retorno do protagonismo dos desfiles de moda nos próximos anos. Estamos vivendo uma ressaca digital — uma sede por conexão real, por pertencimento em experiências físicas. E, convenhamos, as pessoas estão exaustas de parecerem todas iguais.

Estar nesse evento, que frequento há 11 anos, me fez enxergar com clareza cada camada de transformação social que atravessamos.

Entrei no mercado numa época em que os veículos dominavam tudo. Ser da Vogue era quase como ser Deus. Depois veio a crise dos veículos e o boom dos influenciadores. No início, eles também eram seletos — Tassia Naves, Camila Coutinho, Camila Coelho… viraram as novas divindades da moda. A velocidade da mudança foi tão intensa que mal conseguimos processar.

E então veio a era da democratização — junto com a perda da exclusividade. A rapidez da internet transformou os desfiles em see now, buy now, e as coleções começaram a perder profundidade.

Nos últimos anos, perdemos muito em termos de construção, curadoria e investimento.

Como boa jornalista, reencontrei vários amigos — influentes e atuantes em diferentes vertentes da moda. E uma frase me marcou:
“São muitas camadas por trás desse movimento de voltar. As pessoas já não olham mais para a moda”.

Imagino um futuro em que as semanas de moda recuperem seu papel como espaço de socialização autêntica, conexão verdadeira e construção de imagem com propósito.

Mas, para isso acontecer, será necessário um bom trabalho de PR (Relações Públicas). Precisamos resgatar o desejo de pertencer — com consistência, não com aparência.

Hoje, vemos uma ocupação forçada desse espaço: muitos estudantes de moda e influenciadores em busca de validação. Um pertencimento que, muitas vezes, soa vazio.
Bolsas falsas, sapatos falsos, um mix de Shein com fake luxe que revela mais ansiedade estética do que identidade construída.

Acho que há de voltar, mas há um caminho que precisa entregar experiência, curadoria, relevância — e, principalmente, verdade.

SPFW N59 :: Por que precisamos resgatar o desejo de pertencer?
SPFW N59 :: Por que precisamos resgatar o desejo de pertencer?
SPFW N59 :: Por que precisamos resgatar o desejo de pertencer?

Fotos: Marina Cassiolato.

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