A semana de moda de Londres aconteceu entre os dias 17 e 21 de setembro, e apresentou as propostas para a Primavera/Verão 2011 de mais de 60 marcas. O evento que acontece tradicionalmente entre a Nova York Fashion Week e a Milan Fashion Week, contou com alguns nomes já bem conhecidos do grande público como Viviane Westwood, Burberry e Basso and Brooke, dentre outros.
A Basso and Brook, marca dos designers Christopher Brooke e Bruno Basso, aliou feminilidade e tecnologia as suas propostas. Vestidos e conjuntos de saias e camisas se revezaram na passarela, com algumas calças harém e macacões marcando presença aqui e ali. Os shapes traziam hora à cintura marcada, hora a cintura baixa e muitos tubinhos com o aroma dos anos 60 do século passado. O comprimento curto foi a regra, proporcionando um ar de jovialidade à coleção, contrastando com o estilo mais elegante dado pelas tonalidades terrosas que marcaram praticamente todo o desfile. Todas as peças contam com estampas que misturam elementos que nos remetem a mapas, manuscritos e florais. Os padrões são digitalizados e proporcionam sensações multidimensionais, técnica conhecidamente desenvolvida pela dupla de criadores, que dão um ar ainda mais autoral as suas criações.
Muito couro na primavera/verão? Se depender de Christopher Bailey, Diretor Criativo da Burberry Prorsum, essa será uma tendência que irá emplacar( já vimos aqui a matéria Couro no Verão). No desfile da centenária marca, este foi o elemento que mais chamou atenção e esteve presente em calças super coladas ao corpo, jaquetas e em muitos detalhes. Na verdade, a coleção apresentada em Londres nos remete muito mais a idéia de outono, com muito trench coat, peça símbolo da marca, em vários modelos e cumprimentos, inclusive, servindo de inspiração para alguns mini vestidos. Um toque suave e primaveril surgiu na parte final da apresentação, através de vestidos com tecidos mais leves, babados sobrepostos e muito franzido. O cinza, o preto e o bege prevaleceram, mas as cores cítricas deram a pincelada em alguns looks e acessórios, nos lembrando que a coleção foi criada para a época caliente do calendário. O prata metalizado também apareceu de maneira inusitada em várias peças.
A Vivienne Westwood Red Label veio com uma proposta bem comportada, comercial e certo ar de conforto e frescor à passarela. A ousadia, marca da sua Designer, Vivienne Westwood, parece ter ficado de fora dessa vez. O que permaneceu foi a quantidade de referências usadas por ela, parecendo que criou várias coleções dentro de uma só. Contudo, em alguns momentos, o seu discurso pareceu mais amarrado do que de costume. Terninhos, saias lápis, diferentes propostas de camisas foram elementos fortes da coleção, muitos deles em tons clarinhos, mas vívidos, como o rosa, o azul e o laranja. Outro detalhe que chamou a atenção foi a quantidade de estampas presentes, com destaque para as listras e o xadrez. As modelagens eram mais soltas, sem causar prejuízo às curvas femininas.
Paul Smith propôs uma idéia de androgenia na concepção do seu desfile, no qual modelos femininos apresentaram looks com referências do guarda-roupa do sexo oposto. Não faltaram peças como blazers, calças e coletes semelhantes aos usados nos ternos masculinos. Esse direcionamento foi reforçado pelo styling, composto de penteados a moda James Dean e gravatas amarradas das mais variadas maneiras. Mesmo trazendo uma proposta aparentemente masculinizada, se aguçarmos a nossa percepção, é possível enxergar peças de alfaiataria impecáveis e atuais, que proporcionam sensualidade ao corpo feminino. No final do desfile, surgiram alguns vestidos mais estruturados, com a cintura marcada, além de pantalonas e amplos macacões. Cores como o cinza, o ferrugem e o preto predominaram, mas os tecidos com brilho, as estampas de poás e flores, alguma transparência e as cominações quebraram a sisudez aparente deste trabalho.
Podemos destacar também a marca Fashion Fringe que investiu em vestidos com texturas que lembravam micro pregas, construídas em várias direções. A Mary Katranzou também investiu nessa peça do guarda-roupa feminino, contudo, seu diferencial esteve na modelagem mais armada, estruturada, e nas padronagens muito coloridas e inspiradas em quadros que reproduzem a decoração de casas tradicionais. Já a marca Todd Lynn diversificou mais, trazendo também calças mais curtas e detalhes geométricos que parecem ser de uso opcional.
Alguns desfiles vieram com um discurso bem retrô, como foi o caso das apresentações das marcas Caroline Charles e Jasper Conran.
Londres já foi considerada o centro da vanguarda mundial, especialmente a partir da década de 60 do século XX. No entanto, isto parece fazer parte de um passado bem distante quando analisamos a grande maioria do que foi apresentado em suas passarelas nessa temporada. Desejamos que aquela ousadia e criatividade voltem a aparecer em sua semana de moda nas próximas estações e que possamos citar com entusiasmo outros nomes que fazem parte da sua cena.
Carmem Marinho é Relações Públicas, especialista em Cultura de Moda, Consultora de Imagem e professora de Design de Moda e Produção de Moda e Styling.