Por Letícia Santana
Depois da comercial NYFW e da inovadora LFW, chegou o momento das mais tradicionais grifes italianas apresentarem as suas coleções. Na última semana (21 a 27 de fevereiro), aconteceu a Milan Fashion Week, dando continuidade à temporada de Inverno 2019. Como já é de costume, o classicismo e o artesanato dominaram as passarelas, porém, dessa vez, a novidade foi que esses traços tão característicos entraram em harmonia com toques modernos. A tentativa de conquistar os cobiçados millennials ficou clara em 9 a cada 10 desfiles dessa semana de moda, produzindo inúmeras peças ‘instagramáveis’ e relevantes para o comércio. Confira os desfiles mais comentados:
A marca americana Tommy Hilfiger já vem demonstrando o seu interesse em conquistar os millennials desde 2016, quando começou a parceria com a badalada Gigi Hadid. Parceria essa que segue firme e forte até hoje, graças ao sucesso da colaboração. O estilista, que a cada coleção seleciona estrategicamente uma cidade diferente para apresentá-la, escolheu Milão para ter a passarela projetada como uma pista de corrida. Ao seguir à risca as exigências da era digital, a coleção foi vendida no sistema “See Now, Buy Now” e Hilfiger afirmou: “O consumidor quer resultado imediato e experiências únicas que não podem encontrar em nenhum outro lugar”. Quando questionado sobre o possível abandono aos clientes antigos, o designer deixou claro: “Nós não os abandonamos, mas manter a marca fresca é muito importante porque eles ainda querem saber que é relevante. Se não, eles não comprarão para si ou para seus filhos, seus netos e sobrinhos”.
Ao contrário das estratégias milimetricamente pensadas da marca Tommy Hilfiger, a coleção da Gucci viralizou nas redes de forma orgânica. Ao fazer do cenário do desfile uma sala de cirurgia com direito a mesas e luzes, criou-se uma metáfora, fazendo referência ao minucioso trabalho manual dos ateliês de costura. O atual diretor criativo, Alessandro Michele, trouxe também para a passarela um debate interessante e necessário: o DNA do indivíduo contemporâneo. Ao questionar a luta da construção da identidade, o estilista trouxe cabeças sendo seguradas como bolsas e afirmou ser “um cuidado com a mente e os pensamentos”. Em relação ao momento delicado e caótico da indústria, Alessandro mantém o seu posicionamento de fazer moda com discurso: “Limitar a moda a algo que só produz negócios é muito fácil”. Inclusive, três dias após o desfile, a grife anunciou que doará 500 mil dólares ao “Marcha Pelas Nossas Vidas”, projeto que luta pelo controle de armas nos Estados Unidos.
A apresentação da Dolce & Gabbana foi mais uma que conquistou as redes. O DNA maximalista da marca já costuma render bons likes, mas dessa vez o motivo foi outro… Antes do desfile começar, foi solicitado que todos os convidados desligassem o roteador do celular, tarefa difícil tendo em vista a geração 100% conectada que marca presença. Depois de uma hora conferindo se todos já tinham atendido o pedido, o show começou e o motivo da solicitação um tanto quanto inusitada foi explicado: para apresentar as bolsas, a casa italiana dispensou modelos e apostou em drones, surpreendendo a todos. O tema da coleção, “Devoção à moda”, também chamou atenção e Dolce afirmou: “A moda não é trabalho, a moda é devoção. Você vive, dorme e come com a moda, você nunca deixa de pensar nisso e você ama com todo o seu coração”. Ao criar uma harmonia entre as referências bizantinas e as imagens pops de cartoons, criou-se uma estética que agrada os millennials, assim como, o público tradicional da grife.
As estratégias atuais que a indústria da moda está aplicando podem funcionar a curto prazo, mas são perigosa e arriscadas se pensadas a longo prazo. Para prestar atenção.
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