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‘Ela Quer Tudo’

Por Paulo Ricardo

O primeiro filme de Spike Lee, que recentemente virou uma série da Netflix, também está disponível na plataforma. Ótima chance pra re/ver esse clássico lançado em 1986 que de tão atual parece ter sido realizado agora.

Filmado em preto e branco, com um tom intimista e de falso documentário, é sem dúvida um dos primeiros exemplares de negritude no cinema estadunidense, cuja cinematografia empenhava-se em mostrar corpos negros sempre coadjuvando e/ou em papéis estereotipados.

O filme lembra o ‘Manhattan’, de Woody Allen, sendo que no bairro do Brooklin – e aí já vemos a ironia do seu criador. Tem uma fala do roteiro ilustrativa sobre isso: “um dia te levo em Manhattan” e vemos o bairro do outro lado da ponte do Brooklin. É subverter o estabelecido.

‘Ela quer tudo’ é sobre o desejo de uma mulher negra, Nola Darling, e a sua busca não pelo homem perfeito, mas da liberdade sobre si mesma. A mulher, aqui, é o sujeito desejante, não o objeto desejado.

O filme é construído em cima de depoimentos de amigas, de ‘pessoas reais’ – ou personagens representando pessoas reais, já que se trata de um falso documentário – dos seus 3 namorados, o modelo narcisista, o descolado (Spike Lee, ótimo) e o ‘cara ideal’ – que na verdade não é tão ideal assim, já que protagoniza uma cena de agressão sexual totalmente dispensável e que o próprio Lee disse mais tarde ter-se arrependido de tê-la realizado e se redime desse erro, ou ao menos tenta, na série atual. Mas, de qualquer forma é uma sequência bastante ilustrativa da ‘perfeição’ desse homem.

O protagonismo feminino assustava os homens em 86 e ainda hoje assusta.
O monólogo final de Nola Darling é significativo da perspectiva que sempre foi silenciada, mas que deverá sempre ecoar:

“Na verdade, é sobre controle, meu corpo, minha mente. Sobre quem ia ser o dono. Eles? Ou eu? Eu não sou mulher de um homem só. Ponto.”

‘Ela Quer Tudo’
‘Ela Quer Tudo’
‘Ela Quer Tudo’
‘Ela Quer Tudo’

Fotos: Reprodução.

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