Mais do que moda!

Casa de Criadores – Dia 4

Por Arlindo Grund

NERIAGE:

A coleção da Neriage foi bem confortável e propõe um mulher prática, quase minimalista. Tecidos naturais acetinados, com aspecto molhado e texturizado, trouxeram a textura da água que inspirou a coleção. Plissados, cordas, listrados, bordados de linha e sobreposições também compuseram em looks monocromáticos com boas composições. A graduação de cores e texturas, como em ondas, simboliza as diversas fases do mar em relação à lua – ou como um temperamento feminino do início ao fim do dia. Do bege ao azul. Tudo muito sofisticado.

NERIAGE

NERIAGE

NERIAGE

NERIAGE

 

SAINT STUDIOS:

A atemporalidade foi o ponto de partida para a coleção verão 2019 da Saint Studio apresentada na Casa de Criadores. A marca busca forma e função para as roupas e, com isso, trazem um valor agregado na estética. O marrom claro parece que veio forte nessa semana de moda que aconteceu no MAC/USP. As peças apresentam um frescor de verão elegante e sutil, representado na alfaiataria contemporânea. Os shapes foram baseados em linhas simples que evidenciam as formas geométricas fundamentais. Já as texturas e as costuras espelham a consistência da “folha de papel”. A coleção trouxe cores para reiterar o minimalismo além do preto & branco. Fantástica!

SAINT STUDIOS

SAINT STUDIOS

SAINT STUDIOS

SAINT STUDIOS

SAINT STUDIOS

 

ANGELA BRITO:

A estilista Angela Brito traz cabo verde para a Casa de Criadores. Sua pátria. A estilista é atravessada por essa narrativa e sente a necessidade de fazer dessa uma parte de sua obra. O tema envolve histórias místicas sobre o início desta terra e discorre sobre a ideia de desconexão e multiplicidade diante de nossa origem. A marca trouxe o projeto BRUMEDJOS, de Cabo Verde, que também vem como um pano de fundo metafórico para expressar a ideia de “não-lugar “. “A história lida com ancestralidade, inadequação e metamorfismo, temas extremamente relevantes para uma sociedade cada vez mais globalizada e pasteurizada. Descobrir o que não é monoelementar, nem único, nem sozinho, mas misto e múltiplo. BRUMEDJOS, inspirada por personagens mitológicos, como filhos perdidos da antiga Atlantis, a além-mar distantes do continente africano, mas ainda em liames. A miscelânea étnica do povo cabo-verdiano promove múltiplos traços e tons que mimetizam essa terra plural. O solo é berço, geologia, embalado pelo vento que cambia. Noutra curva da estrada, o mar! O Atlântico a perder de vista entre a costa bruta, agreste, a pique. Nesse manto sob o mar d’onde habitamos e pertencemos. Forjados pela lava dos vulcões, corpos e mentes vivas e vermelhas. Somos o fruto ígneo do encontro, somos BRUMEDJOS”.

ANGELA BRITO

ANGELA BRITO

ANGELA BRITO

ANGELA BRITO

 

CAROLINE FUNKE:

“Sabe quando olhamos para algo que nos revela recordações, das mais singelas as mais grandiosas, nos fazendo vagar pela vida com um breve respiro do que seria o futuro? É assim que me sinto quando olho para uma pintura de Salvador Dali.

Meu olhar se perde na ideia ali pintada, nas suas pinceladas e em seus detalhes. Me pergunto o que ele sentia quando a pintou o que o levou a pintá-la. O que, de fato, queria causar com aquilo?

Há tantas temporalidades e atemporalidades ligadas na arte e na vida, não é mesmo? Tanto que passei tantos anos me inspirando nessa imagem que ela me transporta para muitas memórias minhas.

Quando fui estudar sobre ela e descobri seu nome, pensei: Que coincidência… – sorrindo levemente. Persistência da Memória… A verdade é que acredito que deva existir uma porta com uma plaquinha em cima escrita Atemporal. E lá dentro, tudo se mistura nessa loucura da inspiração criação.

Só tenho uma certeza! Certeza do que sinto nessa imensidão que mora no olhar. E ele se perde nessa pintura, me fazendo pensar na minha própria vida”, com esse comentário da estilista Caroline Funke ela faz uma reflexão sobre o futuro. A base de tudo? A memória.

CAROLINE FUNKE

CAROLINE FUNKE

CAROLINE FUNKE

CAROLINE FUNKE

 

ISAAC SILVA:

O estilista Isaac Silva encerra a edição de número 43 da Casa de Criadores de maneira coerente e forte. A marca trouxe a coleção Xica Manicongo. Ela foi a primeira travesti não-índia do Brasil, escrava de um sapateiro de Salvador em 1591 e símbolo de luta e resistência de uma época em que negar o sexo era tido como heresia e digno de punição. “A história dela é mais um exemplo da presença de travestis e transexuais em toda a história do Brasil e é, sem dúvida, a mais legítima representação de afirmação político-social na luta pelo reconhecimento da identidade além do biológico”, explica a presidente da ASTRA-Rio, Majorie Marchi. A partir dai, o preto e branco que simbolizava pinturas corporais virou uma sofisticada estampa para os dias de hoje. Moda e cultura de mãos dadas, sempre!

ISAAC SILVA

ISAAC SILVA

ISAAC SILVA

ISAAC SILVA

Fotos: Divulgação/ Marcelo Soubhia/ Agência Fotosite.

Deixe uma resposta