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A terrível prática de queimar o estoque

Por Letícia Santana

A terrível prática de queimar o estoque

No ano passado, a Burberry incinerou roupas, acessórios e perfumes não vendidos no valor de 28,6 milhões de euros – o equivalente a 126,4 milhões de reais. A notícia divulgada no último mês pelo jornal The Times e que também está presente no relatório anual de 200 páginas que a grife britânica apresenta aos seus investidores gerou revolta, comoção e, de imediato, uma avalanche de comentários negativos tomaram as redes sociais da marca. O susto se tornou ainda maior depois que uma nova informação foi lançada: nos últimos 5 anos, estima-se que a Burberry já tenha destruído o estoque correspondente a 90 milhões de euros (aproximadamente 397 milhões de reais).

Após a enorme repercussão, a marca tentou se retratar afirmando que leva suas obrigações ambientais a sério e aproveita a energia da queima dos itens. “A Burberry tem procedimentos cuidadosos para minimizar o excesso de estoque que produzimos. Nas ocasiões em que o descarte de produtos é necessário, fazemos isso de maneira responsável e continuamos a buscar formas de reduzir e reavaliar nossos resíduos” declara a empresa. Em plena era da sustentabilidade, porém, não tem nota de assessor que justifique números tão chocantes como os apresentados e o tamanho descaso, irresponsabilidade e insensatez por parte da Burberry.

Entretanto, como Lu Yen Roloff, do Greenpeace, comentou para a BBC, “a Burberry é só a ponta do iceberg”. Incinerar o estoque morto é uma prática comum entre grandes grifes para evitar falsificações, roubos e promoções e, dessa forma, não prejudicar a imagem das marcas ou a precificação dos produtos. O grupo Richemont, por exemplo, dono de empresas como Montblanc e Cartier, rendeu manchetes por terem queimado mais de 480 milhões de euros (2,1 bilhões de reais) nos últimos dois anos. Nomes como Chanel e Louis Vuitton também foram expostos representando mais um desrespeito pelo valor das peças, trabalho e recursos naturais necessários para que cada uma delas existissem.

Queimar produtos não vendidos é uma problemática, não só no cunho ambiental, mas também social, uma vez que a pobreza extrema se faz tão presente na sociedade. Visto isso, tal prática é inadmissível e deve ser denunciada e abolida. Para o seu combate, é essencial que a produção seja desacelerada. O incendiamento de produtos, por sua vez, pode ser substituído por técnicas de upcycling e, por fim, o consumidor, cada vez mais engajado e atento, deve exigir mudança.

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