Por Arlindo Grund e Lari Mariano
Se há uma palavra para definir o que une cada desfile deste segundo dia de CdC 54, autenticidade.
Para Lourrani Baas, um mar de possibilidades. De vivenciar Yemanjá e celebrar o feminino sob a ótica da marca: o plus size. E aqui, o que se vê é uma moda que celebra corpos, movimentos, caminhos e, sobretudo, existências. Os volumes, metalizados e as franjas coloridas, trançadas ou que lembrem fitas na peça-chave da coleção, são uma forma de lembrar que cor e movimento fazem não somente destacar, mas pertencer. O mar que acolhe e também impulsiona.
Para a Vivão Project, de Alexandre Vivão, o movimento é o de busca do sonho. Em sua “Retirantes”, coleção apresentada na CdC 54, o retrato daqueles que migram do Nordeste a São Paulo em busca de seus objetivos é traduzido nos tons terrosos, couro e modelagens mais fluidas e esvoaçantes que ganham a passarela. Sob uma perspectiva quase futurista, com muito metalizado, pele à mostra e identidade, o que fica é uma moda que aprende a retratar de dentro pra fora: o futuro é impossível sem olhar para novos ângulos, sob olhos de quem queira ver.
É o que faz também Sandro Freitas com sua Berimbau Brasil. Afro-indígena e afro-futurista, como a própria marca se define, seria impossível não falar de identidade em “Essência”, uma coleção que destaca e dá luz às próprias raízes da marca.
Toda cor, referência de estampas étnicas e a presença de ancestralidade são feitas sob um sorrir final, um celebrar que une na mesma passarela tantos tons, vivências e possibilidades que a própria moda o faz em peças que falam por si só de suas histórias.
E, celebrando mais um capítulo de história, a Mockup de Jair Baptista estreia na semana de moda em formato de fashion film, sem perder os principais pilares da marca: o upcycling e a irreverência. Por isso, muitas texturas, estampas e o peso do jeans são tão presentes nessa identidade construída sob o mote de vestir o futuro, já que o futurismo pode ser múltiplo: uma interpretação única de cada um sobre o que se verá no amanhã: mas já está sendo vestido hoje.
E se festeja hoje também. Como faz a Ken-gá, de Janaína Azevedo e Lívia Barros, com sua coleção batizada de Glacê, com inspiração que mergulha nos bailes de debutante e formaturas dos anos 80. Caminho livre para volumes, babados, laços — tudo sem perder a pele à mostra sob tules e metalizados repletos de formas que lembram a estética de festas da época. Referenciar a vida é experienciar uma moda viva e que acontece assim — do cotidiano que sabe inspirar.
E que sabe viver. É da vida e da existência de resistir que a união entre Vou Assim e DCRLHS apresentam Perfeitrans, um desfile que une o clássico upcycling da ateliê criativa ao plano de fundo repleto de performance e estilo próprio ao celebrar a autoestima e empregabilidade de pessoas trans. É uma moda pautada pela vida — que se costura do real e nítido para mostrar pertencimento e, acima de tudo, caminhos possíveis.
E de possibilidades reais também entende a NotEqual. Sob os olhares de Fabio Costa e Pedro Couto, a estrutura do movimento é muito bem trabalhada num mix de volumes, amplitudes e tecidos estonados que trazem um ar de usos constantes e até desgaste à peça, tal como o couro que faz de si uma perspectiva menos atrelada à rigidez e muito mais ao orgânico que de fato se movimenta. Como a própria marca define, esse live show é visível — acontece sob olhares reais que fazem moda com suas percepções e perspectivas.
Fotos: Divulgação/ Marcelo Soubhia/ @agfotosite.