Por Arlindo Grund e Lari Mariano
Mais um dia de Casa de Criadores e nós ficamos de olho nas apresentações. Tudo em filme/vídeo, mas sempre de acordo com o DNA de cada estilista. É bonito ver a moda autoral cada vez mais ganhando espaço.
Quase como um ballet vindo de dentro, Heloísa Faria iniciou o terceiro dia da edição 47 da Casa de Criadores falando de olhar para si. A coleção, de ares leves e desenvolvida em diversas camadas, dialoga sobre conforto, sobre liberdade, mas também sobre proteção ao mostrar suas inspirações utilitárias: bolsos e funcionalidade se somam ao resultado de um upcycling que tem como base as mulheres operárias de Kasimir Malevitch.
Mais uma vez, a ancestralidade marca forte presença. Desta vez, no trabalho de Alexandre dos Anjos, em sua coleção Corpos Armados. O corpo como ferramenta, como tela da arte e que reconhece seus próprios potenciais. Do trabalho de Alexandre, a conexão com o fazer manual, a tinta dos pincéis traçando linhas e desenhos que falam acerca do conceito.
Inspire, de Ellias Kaleb, traz modelos leves, fluidos e esvoaçantes ao serem mostrados no desfile, sempre em nuances de branco. A marca reforça sua posição agênero e apresenta produções em diferentes corpos. As amarrações e janelas estratégicas deixam o espaço da conexão — o ponto em que falam sobre o tema.
No conceito em que trabalha Dario Mittmann, os pontos-chave para entender a coleção PLASMA são a tecnologia e o comportamento. “Qual o futuro da moda quando nossos corpos tornarem-se ambientes virtuais?”, questiona. Num primeiro momento, a modelo é transformada em um avatar e suas roupas são criadas sob essa nova realidade. Indo além do que é 100% digitalizado, a segunda parte materializa as peças em impressões 3D. Futurismo real?
Realidade reinterpretada. Para a Bold Strap, o conceito foi o de reinterpretar uniformes militares em celebração ao queer. A coleção traz símbolos clássicos do militarismo, como o camuflado, bolsos utilitários e tecidos com estrutura, que ganha nova roupagem com maxi estampas, transparências em materiais diversos, como renda e plástico, e incorpora o significado da lingerie.
Voltamos ao início com diegogama. Sua nova coleção, batizada de F43.1 (que representa o stress pós-traumático no Código Internacional de Doenças), o estilista cria acerca de seu próprio trabalho nos tempos atuais: como ficamos com o processo criativo? Ao romper o romantismo, cria peças que dialogam com essa história: das gotas de silicone no tecido à representativa pintura de rostos do artista Victor Fidelis, até padronagens que lembram os sinais ‘fora do ar’. As referências respondem ao questionamento.
Fotos: Divulgação/ Casa de Criadores.